Jacques Prevert
Un pueblo escucha desolado
el canto de un pájaro herido.
Es el único pájaro del pueblo
y es el único gato del pueblo
que lo ha devorado a medias.
Y el pájaro cesa de cantar
el gato cesa de ronronear
y de relamerse el hocico.
Y el pueblo le hace al pájaro
maravillosos funerales.
Y el gato que está invitado
marcha detrás del pequeño ataúd de paja
donde el pájaro muerto está estirado
llevado por una niñita
que no deja de llorar.
Si hubiera sabido que eso te daba tanta pena,
le dice el gato,
me lo hubiera comido del todo
y después te hubiera contado
que lo había visto volarse
volarse hasta el fin del mundo
allá donde es tan lejos
que nunca se vuelve.
Tu hubieras tenido menos pena
Simplemente tristeza y aflicción
Nunca hay que hacer las cosas a medias
PARA HACER EL RETRATO DE UN PÁJARO
Pintar primero una jaula
con la puerta abierta
pintar después algo bonito
algo simple, algo bello,
algo útil para el pájaro.
Apoyar después la tela contra un árbol
En un jardín en un soto
o en un bosque esconderse tras el árbol
Sin decir nada, sin moverse
A veces el pájaro llega enseguida
Pero puede tardar años
antes de decidirse.
No hay que desanimarse
Hay que esperar
Esperar si es necesario durante años
La celeridad o la tardanza
En la llegada del pájaro
No tiene nada que ver
Con la calidad del cuadro.
Cuando el pájaro llega, si llega
observar el más profundo silencio
esperar que el pájaro entre en la jaula
y una vez que haya entrado
cerrar suavemente la puerta con el pincel.
Después borrar uno a uno todos los barrotes
cuidando de no tocar ninguna pluma del pájaro.
Hacer acto seguido, el retrato del árbol,
escogiendo la rama más bella para el pájaro,
Pintar también el verde follaje
Y la frescura del viento,
El polvillo del sol
y el ruido de los bichos de la hierva en el calor estival
y después esperar
que el pájaro se decida a cantar.
Si el pájaro no canta, mala señal,
Señal de que el cuadro es malo,
Pero si canta es buena señal,
Señal de que podéis firmar.
Entonces arrancadle delicadamente
una pluma al pájaro
Y escribid vuestro nombre
En un ángulo del cuadro.
***
Batismo do ar
Essa rua
outrora chamada de rua do Luxemburgo
por causa do jardim
Hoje é chamada de rua Guynemer
por causa de um aviador morto na guerra
No entanto
essa rua
é a mesma de sempre
o jardim é sempre o mesmo
é sempre o de Luxemburgo
Com alamedas... estátuas... fonte
Com árvores
árvores vivas
Com pássaros
pássaros vivos
Com crianças
Todas as crinças vivas
Então a gente pergunta
a gente pergunta mesmo
por que um aviador morto foi ali meter o bedelho.
***
Café da Manhã
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Pôs café
na xícara
Pôs leite
na xícara com café
Pôs açúcar
no café com leite
Com a colherzinha
mexeu
Bebeu o café com leite
E pôs a xícara no pires
Sem me falar
acendeu
um cigarro
Fez círculos
com a fumaça
Pôs as cinzas
no cinzeiro
Sem me falar
Sem me olhar
Levantou-se
Pôs
o chapéu na cabeça
Vestiu
a capa de chuva
porque chovia
E saiu
debaixo de chuva
Sem uma palavra
Sem me olhar
Quanto a mim pus
a cabeça entre as mãos
E chorei.
***
Café pingado
É terrível
O barulinho de ovo quebrado contra o balcão de zinco
terrível esse barulho
quando ele se agita na memória do homem faminto
terrível também a cabeça do homem
a cabeça do homem que tem fome
quando se vê às seis da manhã
no espelho da grande loja
uma cabeça cor de poeira
mas não é a sua cabeça que ele vê
na vitrine da casa Fauchon
pouco lhe importa essa sua cabeça de homem
não pensa nela
sonha
imagina uma outra cabeça
cabeça de vitela por exemplo
com molho de vinagre
ou cabeça de qualquer coisa que se coma
e mexe lentamente o maxilar
lentamente
e trinca os dentes lentamente
pois o mundo se diverte à custa da sua cabeça
e ele nada pode contra o mundo
e conta com os dedos, um, dois, três
um, dois, três
três dias que não come
e já está cansado de repetir por três dias
As coisas não podem continuar assim
mas continuam
três dias
três noites
sem comer
e por detrás do vidro
patês garrafas conservas
peixes mortos protegidos pelas latas
latas protegidos pelo vidro
vidro protegidos pelos tiras
tiras protegidos pelo medo
quantas barricadas por seis sardinhas infelizes...
Mais adiante o bar e o restaurante
café com leite e pãezinhos quentes
o homem titubeia
e lá dentro de sua cabeça
um nevoeiro de palavras
um nevoeiro de palavras
sardinhas para comer
ovo cozido café com leite
café pingado rum
café com leite
café com leite
café com crime pingado sangue!...
Um homem muito estimado no bairro
cortaram a garganta dele em pleno dia
o assasino o vagabundo lhe roubou
dois francos
ou seja um café pingado
zero franco setenta centavos
dois pãezinhos com manteiga
e vinte e cinco centavos de troco a gorjeta do garçom
É terrível
o barulinho do ovo cozido contra o balcão de zinco
terrível esse barulho
quando se agita na memória do homem faminto.
***
Roupa suja
Oh o cheiro terrível e surpreendente da carne que morre
é verão e no entanto as folhas da árvore do jardim
caem e morrem como se fosse outono...
esse cheiro de carne vem da casa
onde mora o senhor Edmond
chefe de família
chefe de seção
na sua casa de governo do cantão
vai e vem em volta da tina famliar
e repete a sua fórmula favorita
Roupa suja se lava é em casa
e toda a família cacareja horrores
e vergonhas
treme e escova e esfrega e escova
o gato bem que queria se mandar
tudo isso lhe corta o coração
o coração do gatinho de estimação
mas a porta está fechada a cadeado
então o pobre gatinho vomita
o pobre pedacinho de coração
que na véspera tinha comido
velhas carteiras flutuam na água da tina
e também escapulários... suspensórios...
gorros de dormir.. quepes de guardas...
apólices de seguro.. livros de contas...
cartas de amor em que se trata de dinheiro
cartas anônimas em que se trata de amor
uma roseta da legião de honra
velhos pedaços de cotonetes
fitas
uma batina
ym calção de vaudeville
um vestido de noiva
uma folha de parreira
uma blusa de enfermeira
um colete de oficila dos hussardos
fraldas
um colete de gesso
um culote de pele...
subtiamente longos gemidos
e o gatinhos põe as patas no ouvidos
para nçao ouvir o barulho
porque ele gosta da moça
e ela quem chora
é dela que falam mal
é a moça da casa
está nua... grita.. chora...
e batendo-lhe na cabea com uma escova dem piaçaba
o pai lhe dá juízo
tem uma mancha suja
a moça da casa
e toda a família a mergulha
e torna a meregulhá-la
ela sangra
berra
mas não quer dizer o nome...
e o pai berra também
Que nada transpire desta casa
Que tudo fique entre nós
diz a mãe
e os filhos os primos os mosquitos
gritam também
e o papagaio no poleiro
repete também
Que nada transpire desta casa
honra da família
honra do pai
honra do filho
honra do papagaio Espírito Santo
está grávida amoça da casa
é preciso que o recém nascido
não saia de casa
não se sabe o nome do pai
em nome do pai e do filho
em nome do papagaio já apelidado de Espírito Santo
Que nada transpire desta casa...
com uma expressão sobrenatural no rosto
a velha avó sentada ao lado da tina
trança uma coroa de sempre-vivas artificiais
para o filho natural...
e amoça e pisoteada
e a família com os pés nus
pisa pisa e pisa
é a ovelha negra da família
a vindima da honra
a moça da casa morre
lá no fundo...
na superfície
glóbulos de sabão explodem
glóbulos brancos
glóbulos pálidos
cor de filho de Maria...
e num pedaço de sabão
um chato escapa com os filhotes
o relógio soa uma hora e meia
e o chefe de família e de seção
põe o cobre-careca na cabeça de chefe
e sai
atravessa a praça do governo do cantão
responde ao cumpriomento do subchefe
que o cumprimenta
os pés do chefe de família estão vermelhos
mas os sapatos estão bem engraxados
Melhor despertar inveja do que piedade.
3 Comments:
interesante
sigo aprendiendo, gracias
sí, mejor la letra azul
saludos
yo tambien aprendo. recordar es aprender... escribir lo es tambien... grax por los comentarios
hace un tiempo atras, solo cronos sabe cuanto, lei una noticia de un hombre que se opero a si mismo. creo que el estomago. prometo buscarla. como? no se...
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